ELES SÓ QUEREM LOURAS - MESMO QUE SEJAM FALSAS
Eduarda* é passista de uma escola do grupo especial do Carnaval carioca. Resume em suas formas calipígias a beleza de duas nacionalidades - a materna, da Europa e a paterna, brasileira mesmo. Também é escultural intelectualmente: formou-se em Relações Internacionais e tem fluência em três línguas.
Ganha 5 mil reais por mês como prostituta - "garota de programa", diz ela - numa "casa de saliência" (como diz minha avó de 94 anos) que funciona no iniciozinho na Avenida do Pepê, Barra da Tijuca, terra de endinheirados e de gente que almeja chegar lá.
Seu "programa" mais barato (o de 40 minutos, em uma cabine) custa 170 reais. A entrada na "boate" sai por uma consumação de outros 40 reais (até as 21 horas. Depois, são quarentinha puros).
Na casa, nenhuma das cerca de 20 garotas tem mais de 25 anos. Todas possuem nível educacional de, pelo menos, primeiro ano universitário.
Eduarda gostaria de ressuscitar as mechas de seu cabelo alisado, mas não pode. "Aqui todas as garotas têm cabelo liso", observz. Na casa, há um número de loiras em muito superior à média nacional. Quase nenhuma é verdadeira.
Sai século, entra século, a escravidão não acaba no Brasil. Se antes a elite branca possuía mulheres negras com o cabelo que fosse, agora seus descendentes, mesmo durante o sexo contratado, forçam o aclaramento da população.
Seu prazer tem cor e formato de cabelo.
*Nome fictício.
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