sexta-feira, janeiro 25, 2008

China cresceu 11,4% em 2007 e traz de volta a tese do 'descolamento'

O Globo - 25/01/2008

Expansão é a maior em 13 anos. Números eram aguardados com ansiedade

Gilberto Scofield Jr.

Apesar dos sinais de enfraquecimento da economia dos EUA, a locomotiva chinesa continua em disparada. A China anunciou ontem que, em 2007, o produto Interno Bruto do país (PIB, o conjunto de bens e serviços produzidos) alcançou 22,66 trilhões de yuans (US$3,42 trilhões), o que significa uma taxa de crescimento de 11,4%, a maior dos últimos 13 anos. Trata-se do quinto ano consecutivo de crescimento econômico acima de 10%. No ano anterior, o país crescera 10,7%.

O índice Nikkei da Bolsa de Tóquio fechou em alta de 2,1%. Em Cingapura, o índice Strait Times subiu 2,23%, e a Bolsa de Hong Kong, 3,1%. Em Xangai, a alta foi mais tímida, de 0,3%.

O resultado do PIB, que ajuda a reforçar a tese de "descolamento" da crise americana, ajudou a impulsionar os mercados. Num momento de incertezas sobre os efeitos da crise das hipotecas americanas sobre a economia mundial, o governo da China está tranqüilo e garante que 2008 será um período de crescimento forte para o país, ainda que um pouco menor que o do ano passado, segundo Xie Fuzhan, diretor do Escritório Nacional de Estatísticas (ENE), o IBGE chinês.

Os sinais de recessão nos EUA e a valorização gradual do yuan já fizeram as exportações chinesas crescerem um pouco menos no último trimestre de 2007, mas a maior preocupação da equipe econômica da China para este ano é mesmo com a inflação e a ameaça ainda existente de superaquecimento em determinados setores da economia. Ano passado, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) fechou em alta de 4,8%, bem acima da meta de 3% fixada pelo governo (6,5% somente em dezembro) e a maior taxa anual dos últimos 11 anos.

- Depois de atingir o pico de crescimento de 11,9% no segundo trimestre de 2007, a economia chinesa cresceu menos a cada trimestre: 11,5% no terceiro e 11,2% no quarto. Mesmo assim, o risco de se passar de um desenvolvimento rápido para o superaquecimento ainda existe - disse Xie Fuzhan. - Sobre a inflação, a pressão de alta continuará grande em 2008, mas precisamos aguardar ainda um pouco para acompanhar a eficácia das últimas medidas do governo.

Na semana passada, a China anunciou o congelamento de preços de vários produtos às vésperas do feriado do Ano Novo chinês, dia 7 de fevereiro. Ontem, uma reportagem no "China Securities Journal" mostrou que o Banco Central chinês vai lançar um série de medidas de controle dos empréstimos bancários para investimentos, seja na aquisição de empresas, seja na construção civil. Os bancos chineses já têm tetos trimestrais para empréstimos em 2008. E uma força-tarefa foi criada para investigar o nível de exposição das instituições às hipotecas de alto risco dos EUA.

Apesar de todas as medidas, muitos acham que a China ultrapassou a Alemanha em 2007 (ou ultrapassará este ano) no ranking dos maiores PIBs do mundo.

Superávit comercial foi recorde e cresceu 47%

- O país cresceu muito em 2007, mas não a ponto de ultrapassar a Alemanha como terceira maior economia do mundo, especialmente por conta das variações cambiais - disse Xie. - Ainda que ultrapassemos os alemães este ano, isso não significa muita coisa. Há um abismo separando as rendas per capita entre os dois países.

O superávit comercial com o mundo bateu recorde: US$262,2 bilhões, numa alta de 47,7%. A alta das exportações (US$1,2 trilhão) foi de 25,7%, mas 1,5 ponto percentual menor que a de 2006. Já as importações (US$955,8 bilhões) cresceram 20,8%, 0,8 ponto percentual acima do valor de 2006.