A BOMBA FINANCEIRA DO MERCOSUL
Argentina e Venezuela propuseram aos demais países do Mercosul criar uma verdadeira bomba político-financeira que vai colocar em questão o papel do Banco Mundial e do FMI.
O diário argentino Página/12, em sua edição de quinta (20), revela que a Ministra da Economia da Argentina, Felisa Miceli, levou à Cúpula de Presidentes do Mercosul, realizada em Córdoba na semana passada, a “Proposta Técnica” de criação do “Banco de Desenvolvimento do Mercosul” - aquele de que o presidente Chávez, da Venezuela, fala publicamente desde janeiro, mas que há pelo menos um ano vem sendo reservadamente planejado. E com o sinal verde de Lula.
O lançamento público e oficial da idéia pode ser feito ainda em 2006 - mais precisamente, entre setembro e outubro, diz o Página/12.
Segundo a reportagem de Raúl Dellatorre, Miceli trabalhou durante os últimos três meses na elaboração da proposta em conjunto com seu colega venezuelano, Nelson Merentes. Em março, presidentes de vários BVancos Centrais da região estiveram em Caracas para tratar da idéia de um ponto de vista "técnico".
Recordo que também esteve na capital venezuelana o presidente do BC brasileiro, Henrique Meireles - aquele mesmo que entrou na muda desde que a crise do mensalão atingiu Palocci.
A sugestão de Miceli e Merentes, inspirados por Chávez, é construir um banco para financiar o desenvolvimento de seus sócios, prepará-los para dispensar os acordos com o Banco Mundial e o FMI e libertar-se de instrumentos discricionários como o tal do risco-país.
Uma avant premiére do Banco do Sul já teriam sido os lançamentos de títulos da dívida de Argentina e Uruguai, adquiridos, e vendidos posteriormente com lucro, pelo governo da Venezuela - que, segundo o Página/12, estaria disposta a aportar inicialmente 5 bilhões de dólares no Banco do Sul.
E, com a decisão de antecipar o pagamento de suas dívidas com o FMI, Argentina e Brasil teriam possibilitado que que seus Bancos Centrais acumulassem reservas, o que facilitaria ainda mais o parto de uma nova instituição financeira.
Agora, o que eu apurei aqui no Brasil.
Em Córdoba, Mantega disse que simpatiza mais com a criação de um fundo do que com um banco regional. Citou, inclusive, o aporte à Corporación Andina de Fomento (CAF), um banco voltado para a região andina, que tem a desvantagem de ter a sua atuação limitada, por força de estatuto, aos países da subregião.
A criação de um fundo talvez seja a saída que o Brasil encontrou para superar os obstáculos, legais e políticos, internos.
O Bndes há tempos estuda financiar, direta ou indiretamente, os países vizinhos, como orienta a política de integração regional do governo Lula. O objetivo é desenvolver o Brasil e também induzir o crescimento das demais nações.
O ex-presidente do Bndes, Guido Mantega, hoje Ministro da Fazenda, chegou a empenhar sua palavra em que aportaria 200 milhões de dólares para a CAF apoiar os projetos prioritários da Iniciativa de Integração da Infraestrutura da Região Sulamericana (IIRSA) - para a qual ambientalistas dos 12 países da região torcem o nariz.
O Banco, entretanto, esbarra na resistência de membros do Conselho Deliberativo do FAT (Condefat), de onde anualmente vêm cerca de 40% dos seus recursos.
Influenciado pela sua ala sindicalista, o Condefat argumenta que financiar empresas nos países vizinhos significa exportar empregos.
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