quarta-feira, agosto 30, 2006

MERCOSUL PARA CONSUMO EXTERNO

Na próxima sexta-feira (1), às 14horas e 15 minutos, quando deram entrevista coletiva no Rio de Janeiro, os ministros das áreas financeira e econômica dos países membros e dos Estados associados ao Mercosul dirão que, após uma manhã inteira de trabalho no belo Palácio Itamaraty, centro da cidade, chegaram a um acordo sobre a pauta que discutira na parte da manhã: cooperação no comércio regional com moedas locais, balanço comercial dentro do Mercosul e países associados, fluxos atuais e desafios do comércio intra-bloco e atuação dos países do Mercosul e países associados em organismos multilaterais.

Mas, essa aparente convergência será apenas para dar uma satisfação ao público externo. Dificilmente Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela, membros plenos do bloco, e Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru, associados, chegarão a um consenso sobre temas que são uma fixação para Caracas e Buenos Aires: a criação do Banco do Sul e a atuação coordenada na reunião conjunta que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial realizam em setembro, em Cingapura.

Guido Mantega, do Brasil, não é simpático à idéia do banco e prefere centrar a atuação no aumento do peso do Brasil no sistema de decisão do FMI – que, assim como o Banco Mundial – busca uma nova função e, para isso, aceita dar mais poder a aliados dos EUA – que controlam ambas organizações.

México, China, Coréia do Sul e Turquia saíram na frente, em sua luta por aumentar o poder no FMI e ter mais cotas no processo de decisão do Fundo. O Brasil, como se vê, está fora do círculo íntimo dos amigos de Washington e não deve conseguir que seu peso cresça.

No front interno da América do Sul, a estratégia brasileira, de crescer de tamanho no FMI, deve sofrer um abalo, devido à aproximação da Venezuela da China – que também crescerá no Fundo.

Hugo Chávez conseguiu recentemente duplicar as vendas de petróleo venezuelano a Pequim e, em troca, recebeu dos chineses a promessa de apoiar Caracas em seu pleito de integrar o Conselho de Segurança da ONU, na condição de membro rotativo.

Mas, os perdedores desta rodada de aumento de poder no FMI não devem desistir. Está prevista nova revisão dos pesos dos países em 2008, quando a demanda do Brasil deve novamente ser analisada.

Isto é, se até lá continuar a valer a pena de participar de uma organização que vem perdendo importância.