A PUJANÇA DO TANTINHO
Tamanho não é documento mesmo. Por exemplo, alguém daria alguma coisa por um sujeito que se chama Tantinho? Mas, se não dá, está na hora de prestar atenção ao homem, baixinho por natureza. Chega ao mercado agora uma das melhores coleções de sambas da Estação Primeira, editados pelo compositor Tantinho da Mangueira - como anuncia o blog do mestre Nei Lopes (www.neilopes.blogger.com.br), do qual este outraglobalizacao.blogspot.com é fã de carteirinha. Segue aí o texto do Nei sobre o Tantinho da verde e rosa.
“TANTINHO E A "PUJANÇA DA NATURA"
Em 1955, no desfile da Presidente Vargas, a Estação Primeira cantava a Natureza, num belo e clássico samba, do sorridente Nelson Sargento em parceria com seu padrasto Alfredo Português e u'a maõzinha do Jamelão; samba esse que a certa altura dizia assim: "Outono, estação singela e pura/ é a pujança da Natura/ dando frutos em profusão...".
Mais de cinqüenta anos depois, chega às boas livrarias, charutarias e cafés elegantes (às lojas de discos "é ruim" chegar) o maravilhoso cântico à verde-rosa - essa árvore frondosa cujos frutos todos são aproveitados; esse jequitibá do samba - organizado pelo grande cantor, compositor e improvisador Tantinho da Mangueira.
Trata-se de um CD duplo com 32 faixas garimpadas entre mais de cento e tantos sambas por essa figura ímpar que é o meu amigo Devanir Ferreira (seu nome no babilaque), que não esperou o devenir e foi fazendo, por sua conta.
Conta a lenda que Tantinho, ele mesmo, fez um panelão de angu à baiana e sentou embaixo do viaduto da Mangueira com um gravador. Aí, a cada um que entrava na fila pro rango, ele exigia 1 kg de sambas não-perecíveis, alimento da alma. E aí armou essa espécie de bolsa-família ao contrário - porque, no caso, os beneficiados somos nós, seu grande público.
Fisicamente, Tantinho é uma versão compactada do Wilson Moreira (se fosse um soul brother, rapper ou hip-hopper, seu nome artístico poderia ser Compact Wilson). E a semelhança se estende também ao talento, ao caráter, à doçura - qualidades moldadas "na braba", na favela, na escola da malandragem mas também na escola profissionalizante, onde desenvolveu o espírito nato e a criatividade de artífice, artesão e produtor de cultura.
"Tantinho, Memória em Verde e Rosa" é uma compilação que já nasce antológica. De 32 sambas que representam o puro suco do terreiro da Manga. Frutos perfumados, com a pujança do patrocínio da Natura, a dos cosméticos, a qual, graças à Lei Rouanet bancou o sonho ousado do neguinho do velho bloco Olha Essa Língua, rival do Chuca-Chuca, brabeza do Esqueleto. Que é compositor desde sempre e não "bissexto" como disse um repórter. "Bissexto" como? Nos CDs, Tantinho assina 5 faixas, com ou sem parceiros. E cria versos para sambas só de primeira. Como tem criado sempre. Com ou sem a pujança da Natura.”
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