terça-feira, março 20, 2007

TURISMO NUMA SEXTA EM BRASÍLIA

Marta Suplicy toma posse no Ministério do Turismo no dia 23 de março.

Uma sexta-feira!

Sei... Em Brasília...?!

Acho que Marta sangrará em praça pública até alguma próxima eleição paulista .

Se nada tinha a fazer em uma pasta da qual – até que se prove o contrário – nada entende, agora mesmo é que ela terá de fazer de um limão uma limonada.

Isso se ela quiser manter a forma eleitoral tão boa quanto a forma física da bela sesentona que é.
Sem a Infraero, estatal que foi cogitada para ir para o Turismo, e com apenas R$ 2 bilhões de orçamento, o que é o Ministério tem para oferecer a alguém que já pensou até em ser candidata a presidente da República?

Além de convescotes por esse Brasilzão, muito pouco.

Lula, por sua vez, vai se distanciando sem parar do PT.

Afinal, se ele não pode – ou não quer - contar com alguns quadros petistas de projeção, a proximidade com o PMDB outros partidos que antes eram execrados pelo petismo não significa apenas o necessário pragmatismo para governar.

É projeto pessoal mesmo.

E o PT que se lixe.

Ou que aceite Ministérios de quase nehuma projeção politica.

sexta-feira, março 16, 2007

SERIADOS POLÍTICOS: Hollywood na crise Bush vs. Chávez

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=424TVQ001

Por Chico Sant’anna,
de Paris em 13/3/2007

Estranhas coincidências. A vida copia a arte ou será que é a arte que inspira a vida? Vejamos um caso curioso.

** Paris, 4 de março de 2007 – Os telespectadores do canal France 2 assistem aos detalhes de um frustrado complô para assassinar o presidente da Venezuela. Numa insuspeita tarde de domingo, a tela do canal público francês mostrou a história de uma missão humanitária organizada por uma ONG norte-americana para prestar serviços de saúde às populações da Amazônia sul-americana. Por motivos desconhecidos, os profissionais adentram sem autorização o território venezuelano. Em Caracas, o serviço secreto nacional descobre que, entre os integrantes da missão humanitária, havia dois assassinos de aluguel. Os mercenários foram contratados para matar o mandatário da Venezuela.

** Caracas, 4 de março de 2007 – O presidente venezuelano, Hugo Chávez, em entrevista ao programa José Vicente Hoy, denuncia que a CIA trabalha para tirá-lo da cena política. Duas opções estariam sendo analisadas para assassiná-lo: um atentado com carro-bomba ou o uso de um míssil para derrubar o avião presidencial. A CIA estaria se valendo da ajuda do Departamento Administrativo de Segurança (DAS) colombiano para ajudar na tarefa.

** Washington, 5 de março de 2007 – Às vésperas de uma viagem à América Latina, o presidente dos EUA, George W. Bush, promete enviar em junho o navio militar médico USS Comfort para atender 85 mil pacientes latino-americanos. Parte da ação humanitária se daria em terras do Peru, Equador, Colômbia, Guiana e Suriname, países que circundam a Venezuela – coincidentemente, o mesmo espaço visitado pela ONG apresentada pelo canal France 2.
Entre estes três cenários, o primeiro constitui uma obra de ficção da série norte-americana intitulada, em francês, DOS – Division de Opérations Spéciales (não confundir com DAS – Departamento Administrativo de Segurança, que, segundo Chávez tenta matá-lo) –, e que retrata as operações de espionagem organizadas pelo Pentágono sob o comando de uma mulher secretária de Estado. O segundo revela um forte temor do governante venezuelano em ser derrubado pela força e, o terceiro, uma proposta de política internacional que certamente irá se contrapor aos milhares de médicos cubanos que atendem pelos rincões latino-americanos. É novamente aquela história de Uncle Sam contra o Comandante Fidel.

Série sintomática
Em DOS, pelo script de Larry Moskovitz, a idéia do atentado ao presidente venezuelano – cujo nome nunca é mencionado – é dos grandes empresários norte-americanos do petróleo, descontentes com a nacionalização da exploração das reservas. O roteiro data de 2005, mas, coincidentemente, as últimas nacionalizações ocorreram há poucas semanas. O seriado denuncia que as "expropriações" são fruto de uma ação planejada pelos chineses. O governo de Pequim estaria pagando propina ao presidente venezuelano – em contas numeradas na Suíça – para que fosse decretada a nacionalização e, em seguida, a realização de novos contratos numa parceria entre China e Venezuela. Assim, Washington ficaria desprovido de um dos seus principais fornecedores de óleo e Pequim não só reforçaria o atendimento de suas necessidades, como também infligiria um golpe à economia dos EUA.

Para que Chávez, digo, para que o não-revelado chefe de Estado da Venezuela não seja assassinado, um comando criado pelo Pentágono é enviado às matas amazonenses para localizar a missão de saúde da ONG. O espaço aéreo da Amazônia, incluindo o brasileiro, é alvo de uma ação eletrônica: todos os radares deixam de funcionar – não se sabe se algum avião caiu nesse meio tempo – para que os marines do Uncle Sam localizem e neutralizem os falsos missionários e, como polícia do mundo, evitem mais um atentado a um chefe de Estado de uma nação do Terceiro mundo. No rastro dessa ação, eles deixam mortos na selva alguns soldados venezuelanos que também buscavam os mercenários. Por que será que não foi pensada uma ação conjunta das duas forças?

Que explicações existiriam para que o episódio de DOS fosse exibido na TV francesa no mesmo dia em que Chávez anuncia que querem matá-lo e às vésperas do anúncio do envio de uma missão médica à região? Talvez nenhuma, mas o fato de um seriado trabalhar o imaginário dos telespectadores de que um presidente pode ser assassinado porque teoricamente ele não atende aos interesses do grande capital internacional, ou prejudica os projetos dos Estados Unidos, é bastante sintomático. A vinculação entre a China, ainda vista aos olhos norte-americanos como a terra de comunistas que comem criancinhas, e o herdeiro de Fidel nas selvas amazônicas deve, efetivamente, incitar o imaginário dos telespectadores.

Nostradamus da pós-modernidade
Situações como essa nos remetem à forma como a mídia apresenta alguns povos. Na ficção, árabes são terroristas, asiáticos são mafiosos, colombianos são sinônimo de narcotraficantes, europeus do Leste, de corruptos ex-comunistas. Os brasileiros, não fugimos à regra: além da imagem de turismo sexual, exploração infantil e desmatadores da Amazônia, há os já conhecidos casos, talvez menos complexos, do episódio da série Simpsons no Brasil ou do filme Turistas, no Rio de Janeiro.

Que papel deve desempenhar a mídia, mesmo nos casos de séries de ficção, em prol da integração dos povos? Como se sentem árabes, europeus do Leste, asiáticos, latinos etc. diante do estereótipo que a poderosa tela de televisão transmite mundo afora?

Fica lançada a questão, bem como a esperança de que a vida não copie a ficção e que Hollywood não se transforme num Nostradamus da pós-modernidade.

sábado, março 10, 2007

A ALIANÇA BRASIL-EUA

Ao chegar ao Brasil no final da tarde desta sexta-feira (8), para um giro por cinco países a América Latina, o presidente dos EUA, George Bush, traz na bagagem muito mais do que a mera proposta de acordo comercial com o Brasil para o fornecimento de etanol ao mercado estadunidense.

A visita de Bush ao Brasil, e a do presidente brasileiro Lula a Camp David em 31 de março, podem não se restringir ao comércio. Elas têm todas as condições para evoluir a discussões sobre uma aliança de longo prazo entre os dois países, em torno da substituição do consumo de gasolina pelo de álcool, em nível mundial.

Essa não é uma tarefa fácil, mas promissora para quem a liderar – e os dois países já são responsáveis por 72% do etanol produzido no planeta. O mercado internacional de etanol ainda está na casa de 50 bilhões de litros anuais. Mas, se o álcool substituir a gasolina como combustível internacional, em um contexto de diminuição de gases causadores das mudanças no clima, estaremos falando da substituição de 1,2 trilhão de litros de gasolina consumidos anualmente no mundo.

Nesta viagem à América Latina, que se estende até o dia 14 e inclui Uruguai, Colômbia, México e Guatemala, Bush tem objetivos imediatos. Como já indicou em seu discurso anual o Estado da Nação, proferido em fins de janeiro, ele pretende, em 10 anos, substituir 20% da gasolina consumida nos EUA por etanol, para diminuir a quantidade de gases causadores de mudanças no clima e as críticas por ser o maior vilão climático da Terra.

Nesses cinco países, e em outros das Américas do Sul e Central, do Caribe, da África e da Ásia, Washington pretende criar um cinturão de fornecedores de combustível agrícola. O Brasil seria o gerente do enorme mercado global do etanol, aportando a experiência que acumulou desde 1975 no seu programa Pró-Álcool.

O país exportaria seu conhecimento de logística de produção e distribuição do combustível, melhoramento genético da cana de açúcar, de onde extrai o álcool, e de fixação de critérios de qualidade que permitam a esse combustível ser considerado uma commodity negociável internacionalmente.

De imediato, o Brasil também espera incrementar suas vendas para os EUA, que em 2006 alcançaram 1,5 bilhão de litros, através de vários países da América Central e do Caribe. Eles possuem tratados de livre comércio com Washington e reexportam, sem taxas, o álcool brasileiro, em manobra para fugir das altas taxas que os EUA cobram do etanol brasileiro e dos subsídios ao etanol estadunidense. A sobretaxa alcança 0,54 dólares por galão (3,785 litros). Essa taxas extras e os subsídios ao milho (matéria prima do etanol produzido nos EUA) foram recentemente renovados pelo Congresso dos EUA até 2009.

Em paralelo, a renovação “verde” dos combustíveis nos EUA ajudaria Bush a reduzir a importação de petróleo venezuelano, que responde por cerca de 11% do consumo interno dos EUA, e talvez diminuísse a desenvoltura com que Hugo Chávez propõe a integração latinoamericana como forma de criar um espaço econômico para resistir ao hegemonismo dos EUA. Porém, tanto a influência do presidente da Venezuela quanto eventuais negociações com o Brasil são apenas aspectos conjunturais da aproximação Brasil-EUA. Há outras possibilidades para Bush, que vem colecionando derrotas políticas, e para Lula, que sonha liderar países em desenvolvimento.

A escala e a qualidade dos eventuais acordos em torno do etanol indicam que pode estar em curso entre os maiores países da América do Sul e do Norte discussões sobre uma aliança estratégica de longo prazo, baseada na produção e no consumo em escala planetária de uma nova fonte energética. Esta judaria os EUA a superar sua dependência extrema do petróleo, substituindo-o por outra fonte de energia farta e barata e que não se transformassem em instrumento de contestação à hegemonia de Washington – como fazem Chávez e Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã.

Mais: o desenvolvimento dessa nova fonte de energia atenderia a outro objetivo dos EUA. Eles até admitem substituir uma fonte energética instável politicamente por outra mais confiável, mas sempre mantendo os altos índices de consumo. Afinal, é na intensidade do uso de recursos – naturais, financeiros e energéticos – que se baseia a estrutura produtiva dos EUA.

E é para aí que convergem os objetivos do Brasil. O governo Lula, através do Ministério das Relações Externas (MRE) do Brasil, avalia que em seus 507 anos o país sempre ocupou uma posição periférica no sistema internacional e que o máximo que pode almejar, hoje, é situar-se em uma posição de liderança entre os periféricos.

Ou seja: Brasil e EUA vêem complementariedades entre suas economias energéticas e suas trajetórias históricas. O primeiro assumiria a condição de provedor privilegiado de commodities agrícolas (no caso, o agro-combustível) de baixo valor agregado localmente, mas que exige algum conhecimento científico e tecnológico. O segundo manteria seu papel tradicional de devorador de recursos, ao mesmo tempo em que renovaria essa condição, mas investindo numa economia baseada no uso menos intensivo do carbono. Isso o tornaria mais digerível por uma opinião pública mundial que exige a resolução dos problemas climáticos gerados pelas emissões de gases – área em que os EUA são responsáveis por quase 20% da produção mundial.

Alguns movimentos recentes indicam que os instrumentos para confirmar complementariedade já foram acionados.

O governo do Brasil tem colocado crédito barato à disposição de empresas interessadas em construir usinas de agro-combustíveis. O seu Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (o Bndes, banco estatal que possui orçamento de 30 bilhões de dólares, maior até do que o do Banco Mundial), financiou quase um bilhão de dólares em 2006 e pode aumentar em 25% esse valor em 2007. Durante os próximos seis anos, o Brasil deve inaugurar uma usina de álcool e açúcar por mês, passando das atuais 336 para 409 até 2013,

Ao mesmo tempo, os EUA se movimentam para manter a hegemonia global. Washington manobra para que o Banco Mundial se ajuste a esse objetivo – e a nomeação de Paul Wolfowitz, ex-Secretário de Defesa dos EUA para a presidência do Banco atendeu à essa estratégia. A entidade identificou na promoção das energias “alternativas” e na intermediação dos créditos de carbono provenientes do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto uma fórmula para financiar e controlar o desenvolvimento de novas fontes de energia que substituam o petróleo.

O Banco agora pensa em ser o grande agente da nova economia de baixa intensidade em carbono e quer se tornar o maior broker de créditos de carbono do planeta. Também grupos privados vão se movimentando para tornar a opção pelo etanol um fato consumado. É o caso do Conselho Hemisférico dos Biocombustíveis, um megalobby sediado na Flórida que atraiu várias pessoas da intimidade dos governos Lula e Bush.

Estão no Conselho, que visa a estimular a adoção dos combustíveis agrícolas, Luis Alberto Moreno, anglo-colombiano que foi eleito em 2006 presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento por pressão dos EUA; Roberto Rodrigues, ex-Ministro da Agricultura do primeiro mandato de Lula e figura proeminente na estratégia da Monsanto de introdução de commodities agrícolas transgênicas no Brasil; Donna Hrinak, ex-embaixadora dos EUA em Brasília, Jeb Bush, irmão do presidente estadunidense e ex-governador da Flórida; e Junichiro Koizumi, ex-primeiro Ministro do Japão.

Pelo quilate dos apoiadores da disseminação do etanol, é possível imaginar o grau de envolvimento que eles têm com os governos de seus países.