terça-feira, julho 24, 2007

Temores sobre os transgênicos estão se confirmando, diz cientista gaúcho

In: ecoagencia 23/07/2007 - Biotecnologia
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=2500&Itemid=2

Geneticista Flávio Lewgoy revela que já há vários casos comprovados no mundo de graves danos à saúde humana e animal provocados pelo uso de transgênicos. "O que os críticos dos transgênicos sempre disseram está aparecendo, e em grau exponencial, mostrando que se tratam de produtos de alto risco", afirmou o cientista à EcoAgência.

Porto Alegre, RS - Um parecer científico da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) sobre os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), dirigido ao Conselho Estadual de Saúde, põe mais lenha na fogueira desse debate. O texto afirma, com todas as letras, que estão comprovados os riscos dos transgênicos à saúde humana e animal.

Elaborado pelo químico e especialista em genética Flávio Lewgoy, ex - professor titular do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e conselheiro da Agapan, o documento destaca que, em 1999, ele já tinha alertado a respeito do potencial nocivo dos OGMs, como resultado dos genes alienígenas inseridos em seus genomas.

“Desde então, pesquisas científicas em renomadas instituições de vários países, bem como relatos de casos, evidenciam que esse potencial se concretizou, em alto risco à saúde pública e animal, com a liberação comercial de variedades Geneticamente Modificadas de soja e milho sem avaliação adequada”, afirma Lewgoy.A seguir, ele enumera no documento de quatro páginas, com a citação das fontes científicas, vários exemplos disso. Tais pesquisas, observa, foram publicadas em periódicos científicos internacionais, de reconhecida seriedade, após rigorosa revisão por painéis de especialistas da mesma área – o chamado “peer review”.

“Os artigos expõem anomalias na bioquímica, sistema imune, anatomia, crescimento, reprodução e comportamento em animais aliementados com batatas, milho ou soja geneticamente modificados”, assinala Lewgoy.Pesquisas com roedoresSão impressionantes, por exemplo, os resultados citados de pesquisas com roedores alimentados com transgênicos.

No Rowett Institute, em Aberdeen, Escócia, roedores jovens alimentados com a batata transgência mostraram, após 110 dias, lesões pré-cancerosas no aparelho digestivo, limitado desenvolvimento do cérebro, fígado, testículos, pâncreas, intestinos dilatados e danos no sistema imune, relataram os cientistas Puztai e Ewen, autores do estudo. Já a doutora Irina Ermákova, da Academia de Ciências da Rússia, publicou que ratas alimentadas com soja RR (tolerante ao herbicida glifosato, liberada no Brasil) tiveram excesso de filhotes malformados e com pouca sobrevida: os sobreviventes eram estéreis.

Além disso, num comunicado ao 14º. Congresso Europeu de Psiquiatria, ela advertiu ainda que a mesma dieta elevou os níveis de ansiedade e agressividade dos roedores.Com resultados bem semelhantes, cientistas das universidade de Urbino, Perguia e Pavia, na Itália, revelaram que a alimentação de camundongos com soja RR provocou alterações no pâncreas, fígado e intestino dos roedores.

Reações humanas ao algodão, milho e soja

Na Índia, em seis aldeias, os trabalhadores de plantações do algodão Bt (transgênicos) tiveram afecções de pele, olhos e aparelho respiratório. Detalhe importante: todos tinham, anteriormente, trabalhado com algodão não geneticamente modificado (convencional), sem apresentar esses problemas de saúde.Em outro caso relatado por Lewgoy, nas Filipinas, em 2003, cerca de 100 pessoas que viviam perto de uma plantação de milho Bt Mon810 tiveram reações cutâneas, intestinais, respiratórias e outros sintomas quando o milho começou a florescer.

“Testes do sangue de 39 pessoas acusaram a presença de anticorpos contra a toxina Bt, o que reforça a suposição de que o pólen seria a causa do episódio. Esses sintomas reapareceram em 2004, em ao menos quatro outras localidades onde foi plantado o mesmo cultivar de milho”. Já na Grã-Bretanha verificou-se um grande aumento nas alergias à soja após a introdução do produto GM. “Em 1999, em curto espaço de tempo, alergias causadas pelo consumo de soja tiveram um salto na incidência de 10% para 15%”.

A soja geneticamente modificada foi introduzida justamente naquele ano no país. E os testes sangüíneos para anticorpos revelaram reações diferentes das pessoas a variedades de soja não-transgências e transgênica (que tem maior concentração de uma proteína alergênica, por “coincidência”).Mortes de animaisApós a colheita do algodão, no distrito de Warangal, em Andhra Pradesh, Índia, 10 mil ovelhas que pastaram folhas e brotos das plantas transgênicas adoeceram e morreram em cinco a sete dias, conta o geneticista.

A causa provável apontada foi a a toxina Bt (do produto transgênico), sendo que não houve mortes de ovelhas nos campos de algodão não-Bt.Enquanto isso, em Hesse, Alemanha, doze vacas leiteiras de um rebanho, alimentadas com folhas e sabugos de milho Bt 176, duplamente transgênico, resistente ao herbicida glufosinato e secretor da toxina Bt, morreram. A Syngenta, fornecedora das sementes pagou 40 mil euros de indenização ao fazendeiro, mas as amostras coletadas para exames de laboratório sumiram, misteriosamente.

Por outro lado, em fazendas dos Estados Unidos constatou-se que, entre ração transgênica e não-transgênica, os animais preferem a última: “Em testes feitos em fazendas, vacas e porcos repetidamente rejeitaram milho GM Bt. Animais que evitaram alimentos GM (soja RR, milho Bt) incluem vacas, porcos, gansos selvagens, esquilos, veados, alces, ratos e camundongos”, destaca o parecer.Crítica à CTNBioQuando aprovou a liberação comercial do milho transgênico da Bayer (resistente ao herbicida glufosinato), recentemente, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) afirmou que a espécie não é potencialmente causadora de degradação ao meio ambiente ou de prejuízos à saúde humana e animal.

“Esta afirmação não se sustenta nos fatos”, critica o cientista gaúcho e conselheiro da Agapan.Segundo ele, as duas únicas pesquisas publicadas a respeito foram duramente criticadas por pesquisadores independentes por serem mal elaboradas, mas mesmo assim detectaram problemas no uso do produto.

Um experimento com galinhas, cita Lewgoy, mostrou que as aves alimentas com ração de milho geneticamente modificado tiveram o dobro da mortalidade, além de menor ganho de peso. A segunda experiência empregou a proteína PAT, que o milho transgênico sintetiza, e filhotes de ratos alimentados por 13 dias com baixas ou altas doses da proteína tiveram problemas de crescimento. Além disso, completa, são muito reduzidos ou inexistentes os estudos sobre a digestão no organismo humano e animal do herbicida e seus metabólitos (empregados na planta e na espiga transgênica), bem como sua interação com os microorganismos do aparelho digestivo.

Riscos preocupantes

“Os riscos de saúde, humanos e animais, do consumo de transgênicos agrícolas, expostos e documentados neste parecer, imediatos – por exemplo, alergias – e a médio e longo prazo, afetando os sistemas nervoso, digestivo e imune, são preocupantes”, afirma o geneticista.Na conclusão do documento, ele recomenda que seja exigido o cumprimento da lei que determina a rotulagem dos produtos transgênicos disponíveis aos consumidores. Orienta também para que o Conselho Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul e dos demais estados e municipios tomem medidas judiciais para impedir o licenciamento e liberação comercial dos transgênicos que não tenham passado por rigorosas avaliações, feitas por cientistas independentes, declaradamente sem conflitos de interesse, ressalta.

“Os defensores dos transgênicos estão ficando acuados, os fatos sinalizam que alguma coisa há de errado. Estamos na véspera de grandes acontecimentos para derrubar os mitos dos transgênicos, que só existem pelas enormes quantias que as empresas do setor investem”, disse Lewgoy à EcoAgência.

Genoma é muito complexo

O geneticista destaca que o genoma é extremamente complexo, por isso é impossível aos cientistas que trabalham na produção de transgênicos controlar todos os seus efeitos. Para ele, estes fatos todos só não têm vindo à público por omissão da imprensa e cumplicidade de boa parte dos cientistas, alguns ingênuos – acreditando que ser contra os transgênicos é ser contra a ciência – e outros silenciados ou pagos pela indústria.

Mas dois cientistas brasileiros já abandonaram a CTNbio por não concordarem com os procedimentos do órgão na avaliação dos OGMs, lembra.Por estranho que pareça, destaca, há muitos cientistas norte-americanos contestando os OGMs e que estão sofrendo represálias por isso: “O poder financeiro dessas empresas é estarrecedor, mas não estão conseguindo mais tapar o sol com a peneira, há uma série de denúncias contra os transgênicos, estamos vivendo outros tempos”, acredita o cientista.

Texto de Ulisses A. Nenê para a EcoAgência. Reprodução autorizada, citando-se a fonte.

ZONEAMENTO PARA INGLÊS VER

É boa a decisão governamental de realizar, até 2008, um zoneamento agrícola de todo o território nacional, para impedir a plantação da cana de açúcar no pantanal e na amazônia. Porém, apesar de acertada, a decisão é amplamente insuficiente.

Primeiro, porque não é apenas a monocultura da cana que ameaça biomas importantes. O eucalipto para produção de celulose de exportação é outra dor de cabeça, dos pampas do Rio Grande do Sul aos resquícios de Mata Atlântica no Espírito Santo e sul da Bahia. Tudo com o vasto apoio governamental a esta monocultura, desde as pesquisas da Embrapa à disponibilidade de crédito a taxas amigas no Banco do Brasil e no BNDES.

Além disso, não basta, apenas, proibir o plantio da cana. A produção em escala industrial de soja, de milho e de gado avança sem controle sobre o cerrado, o pantanal e a região amazônica porque as terras mais próximas dos grandes centros de consumo, no sudeste, já foram tomadas pela cana, em um nítido retorno da economia brasileira à época dos grandes canaviais concentradores de renda e grandes produtores de mão de obra precarizada nas suas relações de trabalho.

Também preocupam as motivações para a realização do zoneamento. Como admitiu o Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, o governo deseja evitar que o álcool brasileiro receba a pecha de destruidor de ecossistemas importantes – como, aliás, já vêm fazendo importadores europeus. Alguns deles chegam a disseminar na mídia o termo “necrocombustíveis”, em alusão ao simpático prefixo bio (vida) aplicado pelos brasileiros aos biocombustíveis.

Preocupa a prioridade que o governo dá ao aspecto comercial do álcool, sem ter demonstrado tamanha dedicação em solucionar o rol de problemas que a produção em larguíssima escala do álcool está causando no Brasil. Tudo indica que o zoneamento será, literalmente, para inglês ver. Aqui no mundo real os problemas sociais causados pela monocultura da cana se refinaram e se disfarçaram, mas se mantêm, em essência, os mesmos do século 17, quando começou o ciclo da cana de açúcar.

Como denunciam entidades ambientalistas, sindicais e até o Fundacentro, o centro de pesquisas em medicina e segurança do Ministério do Trabalho, a disparada da demanda pelo álcool no mercado internacional tem sido atendida às custas de uma maior exploração da mão de obra, que ainda se relaciona com os canavieiros de forma semelhante à quatro séculos.

Mesmo uma hipotética a formalização de todo esse mercado, onde a ampla maioria dos empregos é precária, não seria suficiente para fazer justiça com as centenas de milhares de trabalhadores que têm vida útil para o trabalho diminuída sensivelmente.

A rentabilidade do álcool está tão alta que vale à pena para os empregadores arcarem com os custos da formalização. Sinal dessa valorização do etanol é o interesse massivo que o negócio da produção de álcool no Brasil está despertando até em capitais hoje investidos em setores de altíssima taxa de retorno. É isso que explica o interesse de empresas como a Microsoft e do megaespeculador internacional George Soros, que já anunciaram a decisão de aplicar várias centenas de milhões de dólares no setor de agrocombustíveis.

Certamente a chegada desses capitais dará um ar de modernidade à monocultura, mas espanta que o governo não apresente soluções complexas e custosas, como o zoneamento, para o fato de que na maioria das vezes os cortadores de cana trabalham por produção - o que os leva aos limites do esforço físico para conseguir remuneração maior.

A situação é muito grave mas pode piorar. Já está em estudo a utilização de cana transgênica, mais leve do que a convencional porque consome menos água, que exigirá mais esforço dos cortadores para alcançar suas cotas diárias. E tudo – anotem aí! - será justificado pelo discursos do marketing verde, que atribuirá à cana geneticamente modificada maravilhas tecnoecologógicas que esconderão as relações de trabalho escravagistas do setor. (Também publicado em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_Post=67016&a=112)

sábado, julho 14, 2007

MUITO ALÉM DO MADEIRA

Com a emissão pelo Ibama da Licença Prévia para as hidrelétricas no rio Madeira (RO) o governo envia dois recados. Primeiro recado: esse passo inicial da construção das usinas Jirau e Santo Antônio pavimenta o caminho de outros megaprojetos previstos no PAC. Segundo recado: na visão dos planejadores federais, a Amazônia é uma grande provedora, para o País e para o mundo, de fonte barata de energia (hidroeletricidade, gás natural e petróleo) e de minérios, além da água e dos nutrientes do solo que são exportados sob a forma de soja, da cana de açúcar e do eucalipto que se espalham pela região.

Para os que estão preocupados com o tipo de desenvolvimento que pode ser induzido pela eletricidade das hidrelétricas no Madeira, é bom avisar que isso é só o começo. Da boca do forno do PAC em breve sairá outra batelada de polêmicas. A primeira deve ser usina Belo Monte, projetada pela Eletrobrás e Eletronorte para o rio Xingu (PA).

Há 20 anos Belo Monte se chamava Kararaô, mas, aí, entrou em cena Tuíra. Em audiência pública para debater o projeto, a indígena ameaçou matar o presidente da Eletronorte, caso a usina fosse construída e a inundação provocada pela obra prejudicasse sua aldeia. A imagem de Tuíra brandindo seu facão correu o mundo e ajudou a mandar Kararaô para o purgatório. Mas, há uns oito anos, a usina fez uma plástica no seu projeto-base e começou a voltar à agenda pública, aí já rebatizada marqueteiramente Belo Monte.

Aliás, a usina de polêmicas do governo federal está a todo vapor. Em entrevista a Renan Albuquerque, do jornal Amazonas Em Tempo, Antonio Manzi, diretor-executivo do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), adiantou que o governo planeja construir 75 novas hidrelétricas na Amazônia até 2050! O anúncio foi feito durante a 59ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que se realiza em Belém (PA).

Ou seja, governo após governo Brasília, confirma aquela visão de escritório que tem sobre a Amazônia. Planeja obras tais e quais e desconsidera que ali vivem quase 20 milhões de brasileiros que raramente são consultados sobre as decisões oficiais. Brasília continua enxergando a Amazônia como fonte inesgotável de produtos exportáveis, de baixo valor agregado, que poderá ajudar o País inteiro a se enquadrar de forma rebaixada nos fluxos econômicos internacionais e, assim, garantir o troco da globalização.

Há os que descordam dessa opção. Como o físico Ennio Candotti, presidente da SBPC. A Daniela Chiaretti, do jornal Valor Econômico, Candotti alertou que “infelizmente, ao se analisarem os documentos da SBPC de 1983 [na primeira vez que a Sociedade realizou na capital paraense o seu congresso], percebe-se que as piores projeções para a região se confirmaram. Os desastres ecológicos causados pelas hidrelétricas e pela ocupação desordenada; o avanço da faixa de desmatamento e as dificuldades de integração social com as comunidades da região”.“A lógica asfáltica não cabe ali", disse Candotti ao Valor, defendendo, ainda, que “a integração da América Latina comece por lá, unindo ciência e educação. "É preciso pensar em 'cérebrodutos' e não só em gasodutos'".

O físico também chamou a atenção para a necessidade de pensar a Amazônia reforçando sua dimensão nacional. “Não é possível imaginar o Brasil sem Amazônia, mas a unidade nacional está ameaçada pela falta de políticas públicas para a região“.

Há, embutida nessa constatação, um alerta para as os constrangimentos potenciais da conjuntura internacional. Em outras palavras, há perigos colocados pela expansão permanente do império estadunidense que vai até à guerra, por petróleo, seja no Afeganistão, no Iraque ou no Irã. A Amazônia da abundância atrai, sim, a atenção do império, que já fincou bases militares em sete dos nove países da Bacia Amazônica – os dois países isentos da presença militar estadunidense são Brasil e Venezuela.

O império não pensará duas vezes se precisar garantir os recursos necessários à manutenção dos seus padrões de consumo e de produção. Água, energia, diversidade biológica, minério, alimentos e outros bens da natureza – todos estocados em grande escala na Amazônia - necessariamente passam a entrar nas considerações dos países, e dos EUA, em especial, que concentram enorme poder militar, científico, econômico e diplomático.

Projetos nababescos como Santo Antônio, Jirau ou Belo Monte e seus orçamentos bilionários cumprem dois objetivos nesse cenário.

Para dentro do Brasil, reforçam a tese de que o Estado nacional é apenas um instrumento para legitimar interesses de grupos poderosos, que desconsideram as reais necessidades da população dos locais em que os projetos são instalados. Sempre pairará sobre esses projetos a desconfiança de são um fim em si mesmo e de que não passam de retribuição, com dinheiro público, de favores pouco republicanos.

Nesse sentido se pronunciou o procurador da República no Pará, Felício Pontes Júnior, em entrevista ao jornal O Liberal, de Belém, a respeito de Belo Monte: “ Os estudos realizados por pesquisadores do setor elétrico apontam que a hidrelétrica não deverá gerar os anunciados 11 mil megawatts (Mw) previstos e sim apenas 1,3 mil Mw”.

“O rio Xingu, para onde está projetada a usina, apresenta um ciclo de cheia de seis meses. No período de seca há uma baixa muito acentuada do nível do rio. Durante três a cinco meses, Belo Monte não gerará nenhuma energia, pelo menos da forma como está concebido o projeto', explica Pontes Júnior, acrescentado que esses estudos existem há pelo menos dois anos e, apesar da insistência do procurador, nunca foram contestados pela Eletronorte ou pelo Ministério das Minas e Energia”.

Pontes Júnior ainda chamou atenção para outros problemas: “Em primeiro lugar, a responsabilidade pelo projeto saiu da Eletronorte e foi para a Eletrobrás, que convocou três grandes empreiteiras, coincidentemente no grupo dos maiores doadores da campanha presidencial de Lula, para refazer os estudos', diz o procurador.

Para fora do Brasil, esses projetos à moda Brasil Grande cumprem outra função. Eles reforçam a idéia – enganosa – de que os recursos naturais são inesgotáveis e de que a única estratégia de desenvolvimento possível para o Brasil, e sua consequente posição no cenário internacional, é o de exportador desses recursos, quase in natura, para beneficiamento e agregação de valor econômico e tecnológico no além mar.

De uma forma ou de outra, o debate sobre as hidrelétricas coloca a seguinte questão para o Brasil: quando iremos, enfim, jogar fora a idéia de que a metade superior do mapa nacional é uma espécie de país exótico e passaremos a tratar da Amazônia, efetivamente, como parte importante do País? (Também publicado em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_post=65650)